Sinopse
Corria o ano de 1904. Um hospital militar russo funciona numa semi-abandonada aldeia chinesa. Serguey Karenin, chefe desse hospital, fica sabendo que o oficial ferido que está sendo operado é o conde Vronsky, amante de sua mãe. Karenin vai até Vronsky e lhe dirige a pergunta que o atormentara por toda a vida: o que fez sua mãe querer deixar de viver? Publicado em 1877, o aclamado romance de Tolstoi narra o trágico caso extraconjugal de Anna Karenina. Nesta adaptação cinematográfica, Shakhnazarov o tempera com os escritos Vikenty Veresaev sobre a guerra russo-japonesa, avançando 30 anos no tempo para recontar a história sob o ponto de vista de Vronsky, em vários flashbacks.
Direção: Karen Shakhnazarov (1952)
Nascido em Krasnodar, na região de Kuban, no Cáucaso, Karen Georgievich Shakhnazarov formou-se, em 1975, pelo VGIK (Instituto Estatal de Cinema). Em 1987, seu filme “O Mensageiro” recebeu prêmio especial no 15o. Festival Internacional de Moscou. Dirigiu 13 longas-metragens, entre os quais “Cidade Zero” (1988), “O Assassino do Tzar” (1991), “Sonhos” (1993), “A Filha Americana” (1995), “A Cidade dos Ventos” (2008), “A Enfermaria Número 6” (2009), “Tigre Branco” (2012), e “Anna Karenina. A História de Vronsky” (2017). Com muitos prêmios nacionais e internacionais, seus filmes apresentam uma densa reflexão crítica sobre a restauração do capitalismo e o desmembramento da União Soviética. Assumiu em 1998 a direção geral do Mosfilm, o maior estúdio de cinema da Rússia.
Argumento Original: Liev Tolstoi e Vikenty Veresaev
Liev Tolstoi (1828-1910)
Liev Nikolaevich Tolstoi, considerado um dos mais importantes autores da literatura realista de todos os tempos, nasceu em Yasnaia Polyana, na Rússia, em 9 de setembro de 1828. Com nove anos ficou órfão de pai e mãe, sendo criado por tias e educado por diversos preceptores. Em 1843, iniciou o curso de letras e direito na Universidade de Kazan, mas abandonou os estudos 4 anos depois. Em 1851 iniciou carreira de oficial, no Exército de Cáucaso. No ano seguinte lutou na Guerra da Crimeia, entre russos e turcos, e nessa época escreveu suas primeiras obras: “Infância” (1852) e “Adolescência” (1853). Em 1856 deixou o Exército. Nesse mesmo ano escreveu “Crônicas de Sebastopol” e “Juventude”, completando sua trilogia autobiográfica. Ao regressar de uma viagem à Europa, isolou-se em sua propriedade rural, determinado a se dedicar à literatura. Casou-se nesse período com Sofia Bers, com quem teve nove filhos. Em 1865 iniciou, no formato de folhetim, a publicação de “Guerra e Paz”, uma das maiores obras literárias de todos os tempos. A publicação do romance completo viria 3 anos depois. Em 1877 lançou “Ana Karenina”, outro dos seus romances de grande repercussão. Isolando-se da sociedade e distanciando-se cada vez mais da família, Tolstoi decidiu entrar para um mosteiro. Planejou sua fuga de casa e em 31 de outubro de 1910 finalmente embarcou num trem, levando apenas a filha Aleksandra e um criado. Com a saúde abalada, foi obrigado a descer na cidadezinha de Astapovo. O fato tornou-se público, e telegramas e visitas chegaram de toda a Rússia e outras partes da Europa. Liev Tolstoi resistiu mais alguns dias, mas faleceu pouco depois.
Vikenty Veresaev (1867-1945)
Médico, poeta, novelista, e tradutor russo-soviético da escola realista, na linha de Anton Tchekhov e Maksim Gorky, Veresaev exercia a medicina e escrevia em paralelo. Em 1895 lançou seu romance “Sem Caminho”, mas seu primeiro grande sucesso foi “Notas de um Médico”, de 1901, obra crítica semi-autobiográfica sobre a formação e a prática da medicina. Desde o final do século XIX participou ativamente dos círculos marxistas russos. Em 1903 se instalou em Moscou e fez parte de círculos de escritores. Em 1904, durante a guerra russo-japonesa, foi mobilizado para prestar serviço como médico militar e deslocou-se para a distante Manchúria. As cruéis e difíceis situações que enfrentou naquele momento são descritas por Veresaev na obra “Na Guerra Japonesa”, e no ciclo “Contos Sobre a Guerra Japonesa”. Ganhou notoriedade como crítico com seu estudo da obra de Tolstoi e Dostoievsky – “Vida Ativa. Sobre Dostoievsky e Liev Tolstoi” – de 1910. Sua obra mais importante e reconhecida é “Guerra Civil”, um romance sobre o processo por que passou o país de 1919 a 1921. Traduziu a “Ilíada” e a “Odisseia”, entre outros clássicos da literatura grega. Em 1945 lhe foi concedido o Prêmio Stalin no âmbito literário.
Música Original: Yuri Poteenko
Yuri Poteenko nasceu em Molodohvardiysk, Ucrânia. Recebeu por cinco vezes a indicação para o prêmio Águia de Ouro, pela Melhor Trilha Sonora Original, incluindo as que criou para “A Ilha Inabitada” (Fyodor Bondarchuck, 2009), “TigreBranco (Karen Shakhnazarov, 2012) e “O Espião” (Aleksey Adrianov, 2012).
Sobre a morte do mundo de Anna e Vronsky
Fragmento da entrevista de Karen Shakhnazarov a Ksenia Pozdnyakova da revista Kultura
Kultura: Por que no filme você resolveu transportar o amante e o filho de Anna Karenina, [30 anos depois de ocorrida a tragédia], ao teatro de operações da Guerra Russo-Japonesa (1904-1905)?
Shakhnazarov: Houve uma primeira variante onde eles se encontrariam em 1917. Serguey encontra o velho Vronsky vivendo sozinho em sua propriedade, e aí começa a história. Mas faltava drama à ação. Eu queria fazer um enredo separado, especial para eles. Além disso, era importante mostrar a história do jovem Karenin, caso contrário o personagem ficaria superficial. Alguém dirá, “reescreveram Tolstoi”, e, sim, reescrevemos. E por que não?
Kultura: Acrescentaram ao texto de Tolstoi fragmentos do romance de Veresaev (Anotações de um Médico Sobre a Guerra Russo-Japonesa). Por que a escolha recaiu precisamente sobre ele?
Shakhnazarov: Surgiu a ideia da Guerra Russo-Japonesa porque ela nos permitia mostrar a queda do Império. Na verdade, os acontecimentos dessa guerra foram o começo do fim. Em seguida veio a Revolução de 1905 e tudo desmoronou. A Primeira Guerra Mundial e o ano de 1917 foram a pá de cal. Pareceu-me imprescindível refletir a morte do mundo onde a história de Anna e Vronsky se desenvolveu. A escolha recaiu sobre Vikenty Veresaev (1867-1945). Além de escritor, ele participou diretamente daquela guerra sobre a qual deixou ótimas histórias. Nós aproveitamos muito dele. Todas as histórias dos oficiais. A maneira como Vronsky foi ferido quando o projétil atingiu o local onde jogavam baralho, tudo é de lá. Além disso, a est ética da Guerra Russo-Japonesa é muito interessante: Manchúria, as colinas. E havia outro problema no trabalho com “Anna Karenina”. O próprio romance é estático e fechado no espaço, quase todos os eventos ocorrem em interiores, em salões. Filmando ao pé da letra, você não sairá dos limites das instalações. A China acrescenta muitos recursos visuais ao filme.
Kultura: A vida de Karenina desde o início voa para a morte, não é por isso que você rima sua história com a guerra que levou o Império Russo ao colapso?
Shakhnazarov: Lendo o romance, eu sempre via que a sociedade mostrada por Tolstoi [em 1875] estava à beira do colapso. No livro não há uma palavra sobre isso, mas, pelo menos para mim, a expectativa de uma catástrofe iminente salta dele. Não é por acaso que o elemento da ociosidade é sublinhado, a vida dos heróis é gasta em passatempos sem sentido, então você percebe que em algum lugar existem pessoas graças às quais essa vida inútil é possível. Eu acho que Tolstoi não criou à toa a imagem de um país atraente, mas condenado. A muito poucas pessoas isso vem à mente. Lenin chamou Tolstoi de “um espelho da revolução russa”. E ele era um homem genial e com uma sensibilida de muito sutil. Talvez ele tenha sentido isso lendo “Anna Karenina”. Em minha opinião, tais associações são inevitáveis. Ninguém sabe se Tolstoi mostrou isso intencionalmente ou se, como artista, simplesmente o expressou. Não importa: ele conseguiu.
Um romance com muitas adaptações cinematográficas
“Anna Karenina” foi levada pela primeira vez às telas em 1911 pelas mãos do diretor francês Maurice André Maître.
Seguiram-se muitas outras versões:
“Anna Karenina” (1914), adaptação russa dirigida por Vladímir Gardin.
“Anna Karenina” (1915), versão americana protagonizada pela atriz dinamarquesa Betty Nansen.
“Anna Karenina” (1935), versão americana, direção de Clarence Brown, com Greta Garbo e Fredric March.
“Anna Karenina” (1948), versão americana dirigida por Julien Duvivier, com Vivien Leigh no papel protagonista.
“Anna Karenina” (1953), versão russa dirigida por Tatiana Lukashevich.
“Anna Karenina” (1967), versão russa dirigida por Aleksandr Zarkhí.
“Anna Karenina” (1974), versão russa dirigida por Margarita Pilikhina.
“Anna Karenina” (1985), versão americana, filme para TV protagonizado por Jacqueline Bisset e Christopher Reeve.
“Anna Karenina” (1997), versão americana, direção de Bernard Rose, com Sophie Marceau e Sean Bean.
“Anna Karenina” (2007), filme para a TV russa, de Serguey Soloviov.”Anna Karenina” (2012), versão inglesa, filme dirigido por Joe Wright.
O livro foi levado ao cinema, televisão e teatro tantas vezes e tem tantas versões livres e modificadas para os gostos locais que é difícil saber com precisão quantas são.
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